Há cerca de 1 ano atrás, no meu primeiro ano do Programa Lideranças Virtuosas, eu assisti, pela primeira vez, a essa brilhante sessão bônus conduzida pela querida Angela Donaggio. Hoje, depois de, nesses últimos 12 meses, estudar mais sobre o tema e de ter participado do Programa FemLeader (também liderado pela Angela), ainda me sinto uma aprendiz perto dela, mas já bem mais preparada para debater e compreender muitas questões relacionadas à Diversidade & Inclusão.
Mas você deve estar se perguntando: Por que participar novamente de uma Sessão que eu já participei no passado? Primeiro, porque é sempre um prazer ouvir a Angela falar sobre um tema que ela domina e que muito me interessa. Segundo, porque, além de aprender com ela, eu sempre aprendo com as valiosíssimas contribuições e questões levantadas pelos meus colegas virtuoses.
A Angela começou com a seguinte provocação: Será que eu, mulher branca, tenho “lugar de fala” para tratar de temas relacionados a pessoas pretas, por exemplo? A resposta é simples: Claro que tenho! Lugar de fala é um dado analítico!
E nesse momento, para defender o seu ponto de vista, ela faz referência ao TEDTalk de Michael Kimmel “Why Gender Equality is Good for Everyone que fala sobre a importância do apoio masculino em temas relacionados a igualdade de gênero, já que “o privilégio é invisível para aqueles que o tem”.
E de onde vem esta desigualdade de gênero e raça? Angela explica que isso vem de muitos anos. Historicamente, fomos [DE]formados, muito sutilmente, para valorizar o gênero masculino e a “raça” branca, o que foi moldando e sedimentando os nossos pensamentos, acabando por formar a nossa percepção DEformada sobre a realidade. E é essa percepção que acaba por formar o que “sai” de nós, o que nós falamos (as nossas opiniões), o que nós escrevemos, o que nós decidimos, influenciando cada vez mais outras pessoas nesse mesmo sentido.
Como exemplo disso, Angela traz a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que aborda os conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mas, que, na prática, eram aplicados só para brancos e homens. A própria palavra “Fraternidade” se refere a relações entre homens (à relação entre mulheres chama-se Sororidade).
E como que esses estereótipos impactam a nossa percepção e, consequentemente, as nossas ações? Em dois principais aspectos:
(i) em oportunidade de acesso e
(ii) em oportunidade de ascensão.
Para demonstrar isso, Angela traz dois estudos interessantes (um relacionado a gênero e outro relacionado a cor) que demonstram como os nossos vieses inconscientes agem e interferem no nosso julgamento e, sobretudo, nas nossas ações. São vídeos bem impactantes e desconfortáveis! Mas esse desconforto é positivo, pois faz parte do nosso crescimento e amadurecimento sobre um tema tão relevante como o da Diversidade & Inclusão.
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza.
Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”
Boaventura de Sousa Santos (professor português)
“Meritrocacy” x “Mirror-trocacy” – contratamos quem se parece conosco ou com quem já está ocupando aquele determinado cargo.
Mas por que tudo isso acontece? Angela explica que tudo isso ocorre porque, ao contrário do que pensamos, não somos seres 100% racionais. Pelo contrário, a nossa racionalidade é bem limitada. E isso resta comprovado no livro de Daniel Kahneman “Thinking fast and slow”, que demonstra que temos dois sistemas que regem os nossos pensamentos e condutas: o Sistema 1 (rápido, inconsciente, automático...) e o Sistema 2 (lento, consciente, deliberado…). O nosso cérebro usa, na imensa maioria das vezes, as heurísticas (“regras de bolso”), ou seja, atalhos de pensamento para pouparmos energia. Em alguns momentos isso é ótimo, mas, em outros, podem gerar os chamados “vieses inconscientes” que são erros previsíveis e sistemáticos decorrentes de crenças pessoais que nos levam a tomar decisões equivocadas.
Angela traz, como exemplo, o processo de seleção nas orquestras, onde se costumava contratar um número muito maior de homens do que de mulheres. Com pequenas mudanças no processo seletivo com o intuito de afastar esses vieses (inclusive, retirando o salto alto das mulheres, para que os selecionadores não pudessem mesmo perceber a diferença entre homens e mulheres entrando para realizar o teste às cegas), o percentual de mulheres contratadas aumentou de 5%, inicialmente, para 25% e depois para 35% ao longo do tempo.
Há um grande número de heurísticas e vieses que interferem no nosso processo de tomada de decisão, que tendem a afetar ainda mais o nosso julgamento quando estamos em situações de dissonância cognitiva.
Chegando ao fim do nosso encontro, Angela traz os estereótipos descritivos (o que acreditamos ser “típico” de cada gênero) e os estereótipos prescritivos (como achamos que homens e mulheres deveriam ser). Por exemplo, as mulheres têm que ser perfeitas, cuidadosas, bonitas, enquanto os homens têm que ser fortes, invulneráveis, bem sucedidos, etc. Angela ressalta o quanto estas crenças equivocadas e absurdas (de que as mulheres devem ser perfeitas e os homens invulneráveis) nos machucam. Isso leva a um número crescente de jovens homens ao suicídio, por acreditarem que não podem sentir medo, fraqueza, emoção, chorar, etc., ou seja, que não podem ser simplesmente HUMANOS! - Angela recomenda o documentário “The mask you live in”.
No que se refere às mulheres, toda essa crença de “perfeição” tem aumentando as taxas de depressão e de esclerose múltipla.
Para finalizar o nosso encontro, falamos de pertencimento e a Angela trouxe esse lindo conceito de Brené Brown:
“Pertencer é o direito humano inato de fazer parte de algo maior do que nós. Como esse anseio é tão primordial, muitas vezes tentamos adquiri-lo nos encaixando [fit] e buscando aprovação, que não são apenas substitutos vazios para pertencer, mas muitas vezes barreiras para isso.
Como o verdadeiro pertencimento só acontece quando apresentamos o nosso eu autêntico e imperfeito ao mundo, nosso sentimento de pertencimento nunca pode ser maior do que nosso nível de autoaceitação.”
E fechamos com esse vídeo absolutamente maravilhoso!!
Acho que agora ficou ainda mais fácil compreender porque eu decidi assistir novamente a essa sessão maravilhosa da Angela, não é verdade? 😊
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